Um conto de natal em estreia a sul e muitos concertos pelo país fora
ratando-se da época do ano que mais suscitou a criação de obras
musicais alusivas, é natural que no Natal se multipliquem as propostas
clássicas, aproveitando também o espírito (ou a predisposição)
particular das pessoas para as escutar.
Assim, no Algarve, a Clássica do Sul (OCS) decidiu casar a faceta mais
tradicional com a nova criação musical. Sob o título “Contos e Cantos de
Natal”, ouvem-se alguns dos trechos mais populares da época, mas também
o conto infantil natalício O Sorriso Mágico de Sofia, da autoria de Luís Soldado, um dos valores mais seguros da nova geração de compositores portugueses.
Era uma vez “uma menina que tinha um sorriso que consegue pôr toda a
gente feliz”… É assim que o compositor dá o mote da história escrita
pela sua mulher, a atriz Linda Valadas, que será aliás a narradora
nestes concertos: “a Linda escreveu esta história em 2012, quando
estávamos em Londres, coincidindo com a sua gravidez e nascimento do
nosso primeiro filho”, conta-nos sobre a génese da obra. A história foi
depois revista por Rui Zink, libretista habitual de Luís Soldado, e
ganhou entretanto imagens – de forma até bastante curiosa: “foi a Inês
Prata que fez as ilustrações e são muito bonitas. Ela e a Linda
conheceram-se num vôo Lisboa–Londres”. Neste formato, o livro aguarda
agora edição, ” que deverá acontecer brevemente”.
Mas ainda antes disso, acontece a chegada aos palcos: “o desafio surgiu
em agosto, enquadrado na minha condição de Compositor Associado da
Orquestra Clássica do Sul em 2016″. A estreia, amanhã, na Igreja Matriz
de Albufeira, será, na sua expressão, “só em versão de concerto”, isto
é, apenas com orquestra e narradora. Isto porque, diz, se tudo correr
bem, “estamos a tentar que o último concerto, no dia 23, em Faro [Teatro
das Figuras], conte com as ilustrações originais projetadas em ecrã”. A
obra tem “cerca de 15 minutos de duração total”, desenrolando-se não
com intercalações de narração e música, mas “com a maior parte da
história contada com música por trás”, sendo que a narração será
amplificada.
Como dissemos, O Sorriso Mágico de Sofia estreia amanhã na
Matriz de Albufeira (21.30), seguindo depois para Fuseta (dia 17),
Quarteira (dia 18), Lagos (20), Castro Marim (21), Alcoutim (22) e, por
fim, Faro (23). À exceção de Lagos e Faro, os concertos são de entrada
livre. O restante repertório é tradicional e muito popular, incluindo o Adeste fidelis e o medley intitulado Pop into Christmas.
Segundo a organização, espera-se que o público cante com a orquestra e
que, no fim, faça incluir os seus pedidos numa carta coletiva ao Pai
Natal. A direção musical estará a cargo de Rui Pinheiro.
Mas na cabeça de Luís é já outra criação que domina, embora ainda a seis
meses de distância: “estamos a preparar uma ópera comunitária com a
população e coletividades de São Brás de Alportel, para estrear no final
de junho. Vai chamar-se O Mistério de São Brás e tem libreto do Rui Zink, uma vez mais”.
Tantas músicas para o Natal
Do solstício de verão para o de inverno, os concertos que nos próximos
dias se ouvirão de norte a sul ilustram a variedade de propostas
englobáveis sob a etiqueta “música de Natal”. Em Lisboa, por exemplo, a
Gulbenkian faz este domingo, dia18, e em duas sessões (11.00 e 16.00) o
concerto Natais do Mundo, com a participação dos Coro e Orquestra da
Fundação, dirigidos por Jorge Matta. Temas portugueses, da tradição
europeia e das Américas, aqui incluindo três extraídos das bandas
sonoras de John Williams para os dois primeiros filmes da série Sozinho em Casa.
No mesmo dia, mas no Grande Auditório do CCB (17.00), Sinfónica
Portuguesa e Coro do São Carlos, sob a direção de Pedro Neves, fazem um
programa híbrido, com uma obra dirigida ao público infantil – a Suite de “A minha mãe ganso” (a partir de contos de Perrault), de Maurice Ravel; o medley de arranjos de canções tradicionais The Many Moods of Christmas; e, por fim, o sempre popular Concerto para piano n.º 1 de Tchaikovsky, tendo por solista o macedónio Simon Trpceski. Já amanhã, no mesmo espaço (18.00), A minha mãe ganso será dada no formato de conto narrado (por Margarida Wallenstein), com concurso de vídeo e figurinos. Dirige Pedro Neves.
Ainda no domingo, mas no Meo Arena (19.00), há um concerto de popular classics pela Orquestra Filarmónica Portuguesa, sob a direção de Osvaldo Ferreira.
Na noite anterior (sábado, 17), na Igreja de São Domingos (21.30,
entrada livre), termina o “Natal em Lisboa” com um concerto dos Coro e
Orquestra da Escola Superior de Música de Lisboa, tocando Schumann,
Brahms e Mendelssohn. Dirige Vasco Azevedo. Já hoje (19.30), o Coro
Infanto-Juvenil da Universidade de Lisboa (CIUL) leva o Natal até ao
aeroporto Humberto Delgado (átrio das chegadas).
Mas também na Grande Lisboa, Porto, Braga, Amarante, Mogadouro, Aveiro,
Coimbra, Santarém, Évora e Funchal há sons natalícios clássicos.
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