Ópera de Luís Soldado com libreto de Rui Zink reflete sobre a pandemia
Esta ópera “é uma reflexão sobre o último ano e meio”, em que o país viveu um confinamento devido à pandemia de covid-19, disse Luís Soldado em declarações à agência Lusa.
“Poderá uma ópera ajudar a perceber o que passámos durante a pandemia? Esta foi a pergunta que tanto eu como o Rui Zink e a Linda Valadas fizemos durante todo o processo criativo. Esta ópera mistura muitos dos sentimentos pelos quais todos passámos: o medo, a solidão, a perda e a incredulidade de inúmeras situações absurdas e cómicas. A ópera é também sobre o regresso à normalidade que todos ansiamos”, depois da pandemia da covid-19.
‘O Regresso da Norma’ remete de imediato para a conhecida ópera ‘Norma’, de Bellini, que Luís Soldado reconhece mencionar: “Eu faço uma citação, disfarçadamente, do II ato da ópera de Bellini, no início deste ‘Regresso da Norma’, logo após a abertura”.
Sobre o enredo da ópera, adianta nota da produção: “num estranho acaso, um transtorno temporal, Luana e Baluardo encontram-se porque ambos fogem de uma ameaça. Apenas não é claro que seja a mesma. São surpreendidos por um fantasma ameaçador, que afinal é apenas Urraca, disfarçada porque também ela está a ser perseguida”.
“‘O Regresso da Norma’ põe em cena três dimensões. Se o sentido mais imediato para a Norma é a referência à incontornável figura da tradição operática trabalhada por Bellini, em contrapartida nesta interpretação a norma reverbera a ambiguidade vivida ao longo do último ano e meio no contexto da pandemia, com o normal como desejo e fantasma. A ópera estende-se ainda a um contexto mais abrangente que o da presente situação, com nuances que nos convidam a pensar o passado, o presente e o futuro, num convite à vida”, disse à Lusa o compositor.
Esta não é a primeira colaboração operática entre Rui Zink e Luís Soldado; “será talvez a sétima”, como disse à agência Lusa o compositor, que realçou o facto de “se conhecerem muito bem, permitindo cedências de parte a parte como exige um trabalho de colaboração”.
‘O Regresso da Norma’, com direção musical do maestro Rui Pinheiro, conta com a participação da soprano Sónia Alcobaça, da meio-soprano Susana Teixeira e do barítono Rui Baeta, acompanhados por um violino, uma trompa, um violoncelo e um contrabaixo.
‘O Regresso da Norma’ está em cena nos dias 31 de agosto, 1, 2 e 5 de setembro às 18h00 no claustro do Convento de Nossa Senhora da Graça, em Torres Vedras, e ainda neste espaço, mas às 21h30, nos dias 3 e 4 de setembro. Em Mafra, também no distrito de Lisboa, será apresentada no Largo Coronel Brito Gorjão, no dia 4 de setembro às 16h00.
A produção é da Associação de Ópera e Artes Contemporâneas que se propõe “inovar nos vários géneros músico-teatrais contemporâneos e contribuir para a dinamização e divulgação da ópera, teatro-musical e outras artes contemporâneas”.
A associação pretende trabalhar na formação de novos públicos, “mais ecléticos e socialmente desfavorecidos”, e utilizar “várias formas artísticas como meio de coesão social e territorial”.